Por um momento veio um sentimento com bastante urgência de
desistir. Sim, simplesmente desistir... Deixar de ser tentante, deixar de ter
essa vida tão frustrante. Preciso me acostumar com a idéia. A questão é que não
suporto mais essa vida. Estar rodeada de crianças, bebês e grávidas... Parece
uma perseguição. Tudo me lembra a minha jornada que aparentemente mal começou.
Estou tão cansada disso.
Lembro da sensação que tive quando finalmente tomei a
decisão que estava preparada para gerar. Pode até ser exagero, foi algo
parecido com pular de pára-quedas. Só que nesse caso, a única coisa que sucumbiu
a gravidade foi a cartela do AC que joguei fora... Mas, sim, eu me sentia
pronta. Achava era o momento perfeito.
Só que depois veio o gosto amargo da desilusão. Um gosto, que
com o passar do tempo foi impregnando na minha garganta. Um gosto que não parece querer me abandonar.
Não gosto dos sentimentos que vieram com essa jornada.
Porque a sensação de choque e tristeza toma conta de mim quando fico sabendo
que alguém próximo está gerando? Porque eu não posso simplesmente ficar feliz
imediatamente? Porque preciso primeiro passar por um tempo de luto e
assimilação, para só depois então comemorar? Eu não sou assim.
Porque tenho vontade de chorar quando encontro sobrinhas e
crianças conhecidas? Eu gosto tanto de crianças... Mas, atualmente, eu luto
para segurar as lágrimas quando as vejo.Sinto uma tristeza tão profunda. Eu não sou assim.
Penso como a vida era leve. Quando simplesmente a felicidade
transbordava de mim quando alguém próximo dava a notícia que tinha mais um
bebezinho a caminho ou quando alguma criança sorria para mim. Quero aquela
felicidade de volta, não este gosto amargo que me acompanha.
Quando sucumbi a este "mundo paralelo" de tentante,
passei a conhecer várias histórias. Algumas mulheres passam anos nessa jornada.
Mas não me vem um sentimento de pena, o sentimento que sinto é de admiração.
Nossa como essas mulheres são guerreiras. Como elas são fortes. Eu não tenho
essa força... Lágrimas caem.
Me sinto novamente naquele avião, toda paramentada para o salto.
Mas, dessa vez, estou assustada e vacilante.
Penso que devo esquecer tudo. O trem passou... A questão é
que estou incerta se posso correr atrás daquele trem. Será que ainda
conseguiria alcançá-lo? Ou agora ele está muito longe? Preciso esperar o próximo
parar na estação? O que quero fazer?
Não sei.
Não sei... Talvez eu ainda tenha forças para ir a sua
direção... Não sei... Talvez seja melhor ficar na estação... Não sei... Engulo
e o gosto amargo novamente se faz presente. O que faço?
Agora que descobri que não tenho SOP, estou liberta. Não
preciso mais de AC, tomava ele por obrigação por causa desse diagnóstico
infeliz. Como pude ser enganada por tanto tempo?! Agora eu posso tomá-lo ou
não, por escolha. Afinal, realmente a minha pele fica infinitamente melhor
quando tomo, consigo controlar meus períodos atrasando eles propositalmente
quando preciso e não sinto incômodos e cólicas quando tomo.
Preciso investigar esses incômodos, fato. Não acho realmente
que sejam normais. Mesmo que desista de tentar agora, preciso descobrir o que
é. Endometriose? Algum câncer silencioso escondido? Sim, preciso descobrir,
quanto antes melhor. Se for um câncer, talvez dê tempo de tratar. Não que eu
tenha medo de morrer... Não tenho. Acho que vivi plenamente. Meu pensamento
vaga... Enfim, preciso de respostas.
Não sei se consigo ser rápida o suficiente para alcançar
aquele trem. Sinto o gosto amargo na
garganta. Continuarei sem tomar AC. Mas e se realmente surgir um diagnostico de
endometriose? O que irei fazer? Me submeter a algum tratamento complexo?
Logo vence o "prazo normal" de tentativas. Perdoe,
meu Deus. Minha fé vacila com a quase absoluta certeza que chegarei aos doze
meses... O prazo vence no mês do meu aniversário... Que ironia! Não acho que
haverá presentes.
Estou preparada para continuar a jornada? Praticamente
começando do início, exames mais específicos? Esse gosto amargo não me deixa, não
quero continuar a sentir esse sabor de desilusão.
Me sinto tão impotente,
tão incapaz, tão imperfeita...
Não sei mais se quero pular daquele avião. Não me acho mais
preparada. Quem sabe, talvez, se eu ficar na porta, eu tropece e caia para fora... Mas, não
se preocupem. Eu ainda estou vestindo o pára-quedas.