Especialista ouvido pelo site de VEJA aponta as principais causas
imunológicas que impedem uma gravidez
Por Giulia Vidale - Publicado em 14 set 2016, 14h47
Cerca de 98% das mulheres que tentaram engravidar e tiveram abortos
espontâneos apresentam algum tipo de problema imunológico que pode ser
investigado e tratado com mais de 90% de êxito
Na população em geral, 15% a 20% das mulheres não conseguem
engravidar. De cada 10 mulheres que engravidam, só três terão o
bebê. Entre os sete abortos espontâneos, seis ocorrerão no início da
gestação e durante a menstruação. “Muitas mulheres nem ficam sabendo que
estavam grávidas”, diz o imunologista especializado em reprodução humana, Ricardo
de Oliveira, diretor médico da RDO Diagnósticos. Pois a causa pode ser uma
questão ainda pouco sabida e investigada: problemas associados à imunidade do
organismo, como tireoide, endometrite e trombofilias.
O casal com dificuldade para engravidar deve, antes de tudo, se
submeter a exames pontuais e rotineiros, como espermograma, avaliação das
trompas e reserva ovariana. Cerca de 70% dos problemas de infertilidade são
decorrentes de tais problemas. Muitos pacientes deixam de investigar a causa
neste momento. Pois o segundo passo fundamental a ser tomado é recorrer
aos exames imunológicos.
“Há sempre uma causa para infertilidade, que pode ser investigada e
tratada com mais de 90% de êxito”, afirma.
Isso porque, cerca de 98% das mulheres que tentaram engravidar e
sofreram abortos espontâneos apresentam algum tipo de problema
imunológico. Baseado em um levantamento realizado com 11.000 pacientes e
na revisão de estudos clínicos, o especialista aponta os problemas imunológicos
mais freqüentes que podem dificultar a gestação ao impedir a implantação do
embrião no útero e ou até mesmo provocar abortos precoces.
5 causas imunológicas que impedem a gravidez
1. Aloimunidade
A aloimunidade - imunidade a outro indivíduo - é considerada a
principal causa de aborto espontâneo e acontece quando o corpo da mulher
interpreta o embrião como um defeito e o rejeita, devido a semelhanças
genéticas entre o casal. "Isso pode acontecer porque o feto não é 100%
compatível com o organismo da mãe, já que 50% é proveniente do pai. A condição
acomete 61% das mulheres com aborto precoce e o exame para detectar o problema
é a prova cruzada por citometria de fluxo, que mede os anticorpos contra linfócitos
paternos no sangue da mãe. Em caso positivo, o tratamento é a imunização por
meio de uma vacina produzida com linfócitos do sangue do pai para estimular o
organismo da mulher a produzir anticorpos que identifiquem as proteínas
paternas no embrião sem rejeitá-lo.
2. Trombofilias
A segunda causa é a trombofilia, cuja incidência varia entre 20% e 60%
das mulheres e provoca alterações na coagulação sanguínea e imunológicas,
desenvolvendo anticorpos que atacam a placenta, impendido a implantação do
embrião e provocando aborto. Podem ter origem genética (mutação do fator V e do
fator II) ou adquirida (anticorpos que atacam diretamente a placenta). O
diagnóstico é feito por meio de um exame de sangue que analisa a presença das
mutações e de anticorpos antifosfolipides. O tratamento é feito com a
utilização do anticoagulante enoxaparina sódica.
3. Autoimune - Fator antinuclear
A condição autoimune acontece quando a mulher desenvolve anticorpos
contra substâncias que são próprias de seu organismo. Essas substâncias atacam
a placenta e esse processo inflamatório causa aborto. A origem dessa condição é
causada por dois fatores: antinuclear (contra o núcleo da célula e mais comum)
e anticorpos antitireoide. A incidência da condição autoimune causada por fator
antinuclear incide em 50% das mulheres. O exame para detectá-la é a dosagem de
fator anti-núcleo (FAN) e o tratamento é feito com esteroides hormonais que
tratam a inflamação, permitindo uma gestação normal, sem atravessar a placenta.
4. Autoimune - Tiroidite
A tiroidite é uma doença autoimune que leva ao hipotireoidismo. O
problema, incidente em 20% das mulheres, faz com que a mulher produza
anticorpos que causam falha na implantação do embrião ou inflamação na
placenta, provocando o aborto. O diagnóstico é feito por meio de um exame de
sangue que detecta a presença do anticorpo antiroglobulina e antimicrossomal.
Já o tratamento é o mesmo do fator antinuclear - uso de corticoesteroides que
não atravessam a placenta.
5. Endometrite Crônica
Embora "oficialmente" considerada uma causa anatômica, cada
vez mais acredita-se que a endometrite crônica – é causada po um fator
imunológico e não infeccioso. A condição consiste em uma inflamação do
endométrio, tecido que reveste a parede interna do útero, causada por provável
alteração imunológica e/ou infecciosa. O problema, incidente em 80% das
mulheres com infertilidade sem causa aparente e 30% das que tiveram aborto
precoce, impede a implantação do embrião. O diagnóstico é realizado por meio de
uma histeroscopia diagnóstica e o tratamento consiste em uma histeroscopia
cirúrgica, seguida do uso de antibióticos e anti-inflamatorios. Após
tratamento, a paciente volta a ser fértil.
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