quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Incertezas

Por um momento veio um sentimento com bastante urgência de desistir. Sim, simplesmente desistir... Deixar de ser tentante, deixar de ter essa vida tão frustrante. Preciso me acostumar com a idéia. A questão é que não suporto mais essa vida. Estar rodeada de crianças, bebês e grávidas... Parece uma perseguição. Tudo me lembra a minha jornada que aparentemente mal começou. Estou tão cansada disso.

Lembro da sensação que tive quando finalmente tomei a decisão que estava preparada para gerar. Pode até ser exagero, foi algo parecido com pular de pára-quedas. Só que nesse caso, a única coisa que sucumbiu a gravidade foi a cartela do AC que joguei fora... Mas, sim, eu me sentia pronta. Achava era o momento perfeito.

Só que depois veio o gosto amargo da desilusão. Um gosto, que com o passar do tempo foi impregnando na minha garganta.  Um gosto que não parece querer me abandonar.

Não gosto dos sentimentos que vieram com essa jornada. Porque a sensação de choque e tristeza toma conta de mim quando fico sabendo que alguém próximo está gerando? Porque eu não posso simplesmente ficar feliz imediatamente? Porque preciso primeiro passar por um tempo de luto e assimilação, para só depois então comemorar? Eu não sou assim.

Porque tenho vontade de chorar quando encontro sobrinhas e crianças conhecidas? Eu gosto tanto de crianças... Mas, atualmente, eu luto para segurar as lágrimas quando as vejo.Sinto uma tristeza tão profunda.  Eu não sou assim.

Penso como a vida era leve. Quando simplesmente a felicidade transbordava de mim quando alguém próximo dava a notícia que tinha mais um bebezinho a caminho ou quando alguma criança sorria para mim. Quero aquela felicidade de volta, não este gosto amargo que me acompanha.

Quando sucumbi a este "mundo paralelo" de tentante, passei a conhecer várias histórias. Algumas mulheres passam anos nessa jornada. Mas não me vem um sentimento de pena, o sentimento que sinto é de admiração. Nossa como essas mulheres são guerreiras. Como elas são fortes. Eu não tenho essa força... Lágrimas caem.

Me sinto novamente naquele avião, toda paramentada para o salto. Mas, dessa vez, estou assustada e vacilante.

Penso que devo esquecer tudo. O trem passou... A questão é que estou incerta se posso correr atrás daquele trem. Será que ainda conseguiria alcançá-lo? Ou agora ele está muito longe? Preciso esperar o próximo parar na estação? O que quero fazer?

Não sei.

Não sei... Talvez eu ainda tenha forças para ir a sua direção... Não sei... Talvez seja melhor ficar na estação... Não sei... Engulo e o gosto amargo novamente se faz presente. O que faço?

Agora que descobri que não tenho SOP, estou liberta. Não preciso mais de AC, tomava ele por obrigação por causa desse diagnóstico infeliz. Como pude ser enganada por tanto tempo?! Agora eu posso tomá-lo ou não, por escolha. Afinal, realmente a minha pele fica infinitamente melhor quando tomo, consigo controlar meus períodos atrasando eles propositalmente quando preciso e não sinto incômodos e cólicas quando tomo.

Preciso investigar esses incômodos, fato. Não acho realmente que sejam normais. Mesmo que desista de tentar agora, preciso descobrir o que é. Endometriose? Algum câncer silencioso escondido? Sim, preciso descobrir, quanto antes melhor. Se for um câncer, talvez dê tempo de tratar. Não que eu tenha medo de morrer... Não tenho. Acho que vivi plenamente. Meu pensamento vaga... Enfim, preciso de respostas.

Não sei se consigo ser rápida o suficiente para alcançar aquele trem. Sinto o gosto amargo  na garganta. Continuarei sem tomar AC. Mas e se realmente surgir um diagnostico de endometriose? O que irei fazer? Me submeter a algum tratamento complexo?

Logo vence o "prazo normal" de tentativas. Perdoe, meu Deus. Minha fé vacila com a quase absoluta certeza que chegarei aos doze meses... O prazo vence no mês do meu aniversário... Que ironia! Não acho que haverá presentes.

Estou preparada para continuar a jornada? Praticamente começando do início, exames mais específicos? Esse gosto amargo não me deixa, não quero continuar a sentir esse sabor de desilusão.

 Me sinto tão impotente, tão incapaz, tão imperfeita...

Não sei mais se quero pular daquele avião. Não me acho mais preparada. Quem sabe, talvez, se eu ficar na porta, eu tropece e caia para fora...  Mas, não se preocupem. Eu ainda estou vestindo o pára-quedas.

4 comentários:

  1. Me identifico muito com seus sentimentos, passei um período de 1 ano e 3 meses de tentativas, que foram os mais longos da minha vida, e pensei muitas vezes em desistir, me sentia incapaz e defeituosa, acreditava que meu corpo não funcionava... mas no fim sempre chegava a conclusão que não seria justo comigo, afinal não sera meu sonho?! Só me senti em paz quando descobri o seguinte mantra "ENTREGO, CREIO, ACEITO E AGRADEÇO" (tenta procurar na net sobre ele), não iria desistir, mas também aceitaria caso houvesse algum impedimento pra minha gestação e me permitiria sofrer e se o caminho estivesse árduo demais seguiria em frente de cabeça erguida, mas sem bebe nos braços, mas feliz, não podia deixar minha felicidade depender disso, meu filho não merece chegar ao mundo com uma carga tão grande. Ai decidi seguir meus instintos não usei os indutores que os médicos me receitaram, afinal meus exames não apontavam pra esse caminho, acreditava que pelos sintomas faltava progesterona no meu organismo... aí procurei unas alternativas naturais e dois meses depois, na maior surpresa, me descobri gravida!! Meu corpo funciona!! Estou de 19 semanas. Te relatei tudo isso pois compreendo seu sofrimento, e digo: dê um tempo para seu corpo se organizar e acredite nele, e se realmente ele precisar de ajuda, e isso acontece, ajude-o, não vale a pena desistirmos, hoje eu acredito que o período de tentante nos ajuda a enfrentar o período de gestante, tudo faz parte do processo.

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  2. Estou apenas há 3 meses nesse mundo, mas me identifico muito com as suas palavras... Cada novo anúncio de gravidez me causa um ciuminho que não é saudável e eu tenho cuidado dos meus aluninhos de maneira mais maternal que nunca, mesmo sem perceber... Quando eles me contam seus problemas em casa, ou comentam algo que os pais disseram eu sempre me pego completamente sensibilizada.
    Lidar com esses sentimentos não está sendo fácil e eu realmente acabei de começar a jornada... Não sei por quanto tempo vou ter forças.
    E as pessoas que dizem "Calma, na hora certa vai acontecer" e coisas do tipo... Com certeza se afastariam se imaginassem as coisas horríveis que passam na minha cabeça quando ouço umas dessas.
    Não sei se tenho muito o que dizer pra ajudar... Apenas posso dizer que você não está sozinha e que sempre vai ter muito apoio por aqui :)
    Te desejo dias mais leves e alegres, o quanto antes!
    Beijos!

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  3. Passei dois anos querendo engravidar e vendo minhas primas,minhas cunhadas, todas muito mais novas que eu, em relacionamentos muito mais recentes que o meu, todas engravidando, tendo seus bebês, e eu comprando presentes, visitando na maternidade, festa de um ano, sempre fazendo todo o esforço do mundo para tirar o sorriso amarelo do rosto. Me achando incapaz como mulher. Até que veio o aborto, e para mim foi uma confirmação da minha incapacidade. E ainda tive que ir a um chá de bebê de uma garota que engravidou na mesma época, mas não perdeu como eu. É triste, é horrível. Mas o maior problema está dentro da nossa cabeça. Está no jeito que encaramos esses percalços. Vai saber como nosso corpo se comporta? Vai tentar controlar? Não dá. Para aliviar minha culpa, deixei de tentar, mas sem evitar. Parei de tomar acido folico, pq era uma lembrança diária do meu fracasso. Parei de forçar relação no período fértil. Me coloquei como prioridade, disse para mim mesma aproveitar o tempo sem filhos, pq logo logo eles chegariam, e eu ficaria com saudade do meu tempo sozinha. E consegui relaxar um pouco e parar d me cobrar. E dei vários cortes na minha mãe, que ficava me perguntando quando eu iria engravidar de novo. Ela foi muito insensível mesmo, e me machucou diversas vezes. Se priorize, faça coisas que te divirtam, pense nisso com mais leveza. Cuide do coração e da cabeça, pq quando vc engravidar, as incertezas só aumentam. Beijos!

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  4. Eu ainda não sou tentante, na verdade sou uma "desejante" rs. Mas consigo compreender todo esse seu sentimento de incerteza, frustração e medo.
    Eu tinha uma ideia muito errada das coisas, tenho amigas que engravidaram com facilidade ainda na juventude, inclusive meu afilhado veio de uma gravidez não planejada quando minha amiga tinha 19 anos apenas. Vi outras conhecidas se descobrindo grávidas sem planejar, assim como quem pega um resfriado. E quando resolvi minha interessar mais em estudar esse mundo gestante descobri a quantidade de blogs de mulheres com dificuldades e partindo pra FIV e IA. Fiquei espantada. Não sabia que tantas mulheres esperavam tanto pra ter seu sonho realizado. Não sabia das taxas de falta de sucesso que a FIV tem etc.
    A espera pode ser muito longa pra algumas e menores para outras, mas tenho fé que você irá realizar esse sonho em breve.
    Deus não desampara quem tem fé e corre atrás.
    Beijos

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