quarta-feira, 27 de julho de 2016

Perda Gestacional :: Documentário O Segundo Sol

Filme 'O Segundo Sol' dá voz ao luto de mães e pais que não levaram seus bebês para casa


Documentário quer "dar voz ao luto e apoio para mães e pais 
que passaram pela triste experiência de não trazerem seu filho para casa"

Apesar de 12% dos casos de gravidez no Brasil terminarem em aborto espontâneo, segundo a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), pouco se fala sobre o luto e a dor dessas famílias. O tema é tão invisível socialmente que é comum mãe e pai que perderam seus bebês ouvirem como consolo “daqui a pouco vem uma nova gravidez”. Mas você se imaginaria dizendo algo parecido para alguém que perdeu um filho ou uma filha em um acidente de carro? A invisibilidade do luto decorrente de uma perda gestacional se dá por que, socialmente, não se reconhece a existência de um bebê que morre na barriga, que nasce morto ou pouco depois de a mulher dar à luz. Serviços e profissionais de saúde, assim como pais, amigos e familiares, não estão preparados para lidar com o sentimento que assola homens e mulheres que vivem a expectativa da vida, mas têm que lidar com a morte.


"Eu quero parir essa perda. Quero me despedir do meu filho". 
A frase foi ouvida pelo publicitário Fabricio Gimenes, 25 anos, logo após ele e a esposa, a modista Rafaella Biasi, 33 anos, descobrirem que o filho Miguel estava morto dentro do útero da mãe. O casal que vivia o final da 40ª semana de gestação acabara de chegar ao consultório do especialista que acompanhava aquela gravidez. Rafaella já estava com 4 cm de dilatação, sentia as primeiras contrações e se preparava para um parto normal. Após uma gestação inteira sem nenhuma intercorrência, mas muitos planos e sonhos para quando chegasse o irmão de Cecília, de 12 anos, o casal foi surpreendido pela morte quando, na verdade, esperava pela vida. (Na foto de Eliza Guerra, Rafaella Biasi e Fabricio Gimenes, autores do documentário 'O Segundo Sol')

“Dar voz ao luto e apoio para mães e pais que passaram pela triste experiência de não levarem seu filho para casa” é a forma como Fabricio e Rafaella resumem o trabalho que foi produzido totalmente de forma independente. Com duração de 62 minutos, a narrativa é conduzida pelo relato de cinco famílias que perderam seus filhos e filhas em fases diferentes da gestação, diálogos com profissionais da área da saúde e questionamentos sobre a vida, nascimento e morte.

Rafaella Biasi revela que a escolha do nome O Segundo Sol partiu da vontade de tratar de um tema profundo e complexo, mas com esperança. “É com esse abrir da janela depois do período do luto que conseguimos ver beleza nas coisas. No momento de luto estamos tão acolhidos na dor que nem abrir essa janela queremos, e o dia pode estar muito bonito, mas nossas lentes estão em preto e branco. A luz é também uma analogia a iluminação do tema perda gestacional e neonatal. Tirar o tema da obscuridade e jogar essa luz através de histórias reais, de pessoas de carne e osso que assim como eu e Fabricio, também têm uma história de perda e amor para contar”, explica.

É importante falar da dor
Psicóloga especialista no atendimento a mulheres que sofreram perdas gestacionais ou neonatais, Renata Duailibi ressalta a importância de dar visibilidade a essa pauta: “Acho importante a divulgação do "lado triste da maternidade". Falar sobre as perdas, a dor, o luto. O trabalho com casais enlutados é sempre um desafio. Um convite à superação. Uma aposta na capacidade do ser humano em transformar a dor em alguma outra coisa”. 


A especialista também é uma das coordenadoras do grupo “Por que partiu tão cedo”, espaço para as famílias enlutadas dividir histórias e compartilhar o sofrimento, na busca de conforto e solidariedade. O grupo foi fundado há dois anos pela doula Bel Cristina. Além dela e de Renata Duailibi, é coordenado também pela médica e psicoterapeuta Ana Lana. A iniciativa começou pelo Facebook, mas são realizados encontros mensais em Belo Horizonte.


Uma das histórias retratadas no filme é a de Daniela Andrade Schneider, mãe de Theo, que fala sobre a importância de frequentar um grupo de apoio. Segundo ela, “os encontros presenciais foram experiências intensas e maravilhosas. Cada lágrima e palavra ali compartilhadas eram preciosas e preenchiam de alguma forma um vazio desse luto tão delicado e particular. Me senti privilegiada por fazer parte do grupo, pois a maioria das pessoas prefere negar a tocar no assunto da perda gestacional ou neonatal. Juntos somamos experiências de dor, amor, alegrias e tristezas, dando um novo significado a vida sem nossos filhos tão queridos e amados”.


Empatia

Recentemente uma parceria entre o Famílias em Tiras e as páginas Do Luto à Luta Temos que falar sobre isso lançaram uma campanha de sensibilização à perda gestacional e neonatal. Tirinhas de conscientização foram idealizadas e mostram como as famílias vivenciam e como gostariam de vivenciar o apoio a uma perda gestacional ou neonatal. 






:: Trailer ::



:: Filme ::


3 comentários:

  1. Muitas vezes as pessoas não nos permitem sofrer a dor da perda, sendo que ela é real, está lá. Achei o processo do aborto muito doloroso. As pessoas estão cada vez menos se colocando no lugar das outras e por causa disso relativizando cada vez mais o sentimento alheio.
    Gostei muito do seu post.
    Beijos
    Ptt (Fiv-Amadurecimento da Alma)
    http://fivamadurecimentodaalma.blogspot.com.br/?m=1

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  2. Nossa mom, que tocante!
    Li outro dia o relato de uma mãe que teve a bebezinha falecida na barriga, com 40 semanas. Ela optou pelo parto normal mesmo assim, de sentir toda a dor, fez até fotos com a filha! Mexeu bastante comigo!
    Muito bom o documentário.

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  3. Post perfeito!!

    detalhesmaissimples.blogspot.com

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